A pandemia de Covid-19 obrigou-nos a adaptar a um novo normal. Durante meses, as nossas quatro paredes acolheram o nosso mundo: viram os mais jovens a ter aulas e a fazer testes no próprio quarto, os pais a gerirem empresas e a participar em reuniões internacionais a partir da sala e a cozinha, muitas vezes, a servir de recreio para os mais pequenos.
O prolongamento das escolas e dos escritórios para o interior das casas parece ter vindo para ficar dada a incerteza sobre uma segunda vaga do novo coronavírus ou a ameaça de novas crises. Mas esta nova circunstância social, familiar e laboral está a começar a ganhar raízes na nossa sociedade (e no mundo em geral) e pode muito bem ter transformado a convivência forçada numa oportunidade de mudança de estilo de vida.
O sentimento é de que nada será como dantes. O que não é necessariamente uma situação a lamentar, pois estamos a assistir a uma mudança estrutural e a uma nova mentalidade que pode trazer vantagens a vários níveis, sobretudo em termos de equilíbrio do território e do bem-estar dos cidadãos.
Para adotarmos o trabalho remoto como norma e mesmo a telescola, como parece ser esse o caminho, seria necessário ter uma habitação maior, com mais conforto e condições para albergar todos os elementos do agregado e colmatar as suas novas necessidades. Mas os espaços residenciais que reúnem estas características nas zonas citadinas são mais caros e inacessíveis a boa parte das famílias.
Logo, as famílias podem vir a procurar um novo local para morar, longe das grandes Cidades, em Municípios com poucos ou nenhum caso registado de Covid-19 e onde se sentirão mais seguras dadas as novas regras de distanciamento social. Ou seja, podemos vir a assistir a uma espécie de êxodo das cidades para o campo, na procura de uma melhor qualidade de vida. De uma nova vida.
Esta tendência pode ser, na mesma medida, uma oportunidade para combater a desertificação no interior de Portugal. Toda esta conjuntura demonstra ser a mais favorável até à data para a afirmação destas Marcas Territoriais perante o novo cenário social em crescimento. Esta é a oportunidade para as Marcas Territoriais do interior reforçarem a sua oferta e se posicionarem como o local viável para viver.
Como tudo começou: do confinamento ao teletrabalho
O surto do novo coronavírus afetou profundamente a vida das pessoas, sobretudo a sua mobilidade. Segundo o relatório de mobilidade do Google, no início de maio, em pleno confinamento e estado de emergência, registava-se, em Portugal, uma queda de 63% nas deslocações para áreas de retalho e lazer, de 62% no trânsito e de 54% nos parques. De igual forma, as tendências de mobilidade para os locais de trabalho apontavam uma baixa de 33% e um aumento natural de 18% para os locais de residência.
Estávamos impedidos de nos deslocar por outras razões que não as essenciais, limitados aos nossos metros quadrados e ao nosso teto, sem vermos a nossa família e amigos, sem saber quando voltaríamos a poder circular livremente sem correr riscos de contrair a doença num transporte ou num parque público.
Apesar de os números em junho terem melhorado, a situação ainda está longe de regressar ao cenário pré-Covid-19. De acordo com um estudo da Bloom Consulting, apenas 4% dos inquiridos voltou à sua vida normal, com 45% a sair de casa com muitas precauções e 21% a deslocar-se apenas por motivos urgentes (supermercado e farmácia, por exemplo). Já 27% afirma ter retomado uma vida social mais ativa, mas com cuidados.
Continuamos condicionados e iremos estar por muito tempo, por isso há que aceitar, adaptar e tirar o máximo partido do novo normal.
Por sua vez, cerca de 34% dos trabalhadores continuam em teletrabalho. O temporário está a passar a paradigma. A crise sanitária levou muitos profissionais a experimentarem, pela primeira vez, o formato remoto para trabalhar, sendo que a experiência positiva faz com que queiram prolongar esta possibilidade, com abertura para a combinação com o modelo mais tradicional.
Colaboradores e empresas estão a repensar as suas metodologias de trabalho dadas as vantagens do trabalho remoto: o aumento da produtividade, evitar deslocações e alcançar um melhor equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal.
Os chamados nómadas digitais podem deixar de ser a exceção à medida que o País, as Regiões e as Cidades se preparam para a digitalização como norma.
O aumento do trabalho à distância irá trazer uma diversificação dos locais de trabalho conforme as pessoas procuram novos espaços para trabalhar e viver, sobretudo em áreas mais pequenas e rurais. Logo, podemos vir a assistir a uma redução da concentração de trabalhadores nas Cidades.
As pessoas já não vão precisar de trabalhar em locais definidos e as deslocações pendulares irão tornar-se menos frequentes. O que significa que as pessoas estarão dispostas a ter deslocações ocasionais mais longas, se isso lhes permitir ter casas maiores e mais acessíveis, longe da confusão das áreas metropolitanas e mais seguras numa zona que lhes proporciona uma maior tranquilidade e paz.
O interior como sinónimo de qualidade de vida
Portugal é um País relativamente pequeno, com grande parte da população e dos seus recursos concentrados em algumas das cidades no litoral, resultando num grande desequilibrio territorial. E sem as mesmas ofertas em termos de trabalho, escolas, hospitais e outros serviços indispensáveis para competir com as grandes cidades, o interior não tem encontrado formas de inverter a situação.
Mas esta mudança de paradigma que vivemos atualmente pode ser a oportunidade que o interior precisava para contribuir para uma maior equidade em termos territoriais, sociais e económicos. Se não, vejamos.
De Norte a Sul do País, existem vários concelhos sem registo de casos de Covid-19 no seu território. O que têm todos em comum? A maioria está localizada sobretudo no interior do Alentejo e do Centro, zonas habitualmente com uma menor densidade populacional, cuja disposição no território favorece o distanciamento social e oferece uma maior segurança perante a propagação do vírus.
E já começamos a assistir a uma mudança de comportamentos. Um estudo da Bloom Consulting aponta que 41% dos inquiridos consideram morar noutro local, sendo que apenas 20% se sente atraído pelo centro das grandes Cidades, com os restantes a preferir os arredores, pequenas e médias Cidades ou mesmo vilas e aldeias.
Basta imaginarmos o cenário que uma família enfrentou durante a quarentena (e que ainda enfrenta) ao viver numa Cidade como Lisboa, em contraponto com o cenário de que disporia numa Região como Torres Vedras ou mesmo Idanha-a-Nova, para percebermos como as mentalidades estão, de facto, a mudar.
Vivendo numa grande cidade, a família teve de gerir cirurgicamente as atividades profissionais, escolares e familiares nos 50 metros quadrados do seu T2, localizado num prédio de uma zona muito populacional. Os transportes estão saturados, as filas para as compras no supermercado são enormes, os parques estão cheios ao fim-de-semana e as relações pessoais são afetadas pela falta de bem-estar.
Já um concelho mais pequeno pode oferecer mais condições para uma habitabilidade mais saudável. As casas são maiores, mais acessíveis e mais confortáveis, com um jardim onde se pode trabalhar remotamente e ao ar-livre, enquanto as crianças andam de bicicleta na vasta paisagem. E a horta caseira pode originar um novo hobbie e poupar tempo nas compras, que já não precisam de acontecer ao fim-de-semana porque se vai fazer um piquenique na praia fluvial ali perto, com a companhia apenas da natureza envolvente.
A saturação do confinamento e o risco dos grandes aglomerados, bem como a possibilidade de futuras crises, foi um alerta para muitas pessoas repensarem a forma como querem viver a sua vida. E deverá ser igualmente um sinal para as Marcas Territoriais que pretendem atrair mais talento para o seu território.
A tendência que Idanha-a-Nova antecipou
Encarando as adversidades da Região como oportunidades, Idanha-a-Nova conseguiu antecipar as mudanças de comportamento a que agora assistimos com a sua estratégia Recomeçar, que teve início em 2014.
“Rejeitamos a ideia de que a vida rural é apenas um termo para isolamento e subdesenvolvimento, por isso decidimos trabalhar nas perceções e na marca de Idanha, e preparar-nos para o futuro”, afirma Armindo Jacinto, Presidente do Município de Idanha.
Em jeito de futurologia, este Município posicionou-se com base na sua identidade rural aliada à inovação e à modernidade, tornando-se num exemplo de força e de mudança positiva. E num sítio viável para viver e trabalhar com qualidade, com vários programas que proporcionam um Recomeçar para famílias e empresas.
Porque a implantação do trabalho remoto é só o começo. Ao poderem trabalhar a partir de qualquer ponto, os profissionais podem viver onde sempre quiseram. E até as empresas podem deixar de ter a necessidade de se centralizar nas grandes Cidades. Criar uma família num sítio com mais qualidade de vida passa a ser a prioridade, o que traz mais serviços e mais recursos para as Regiões e Cidades, como hospitais, escolas e cultura.
A solução passa por ter uma vida mais real e mais perto do ideal, no interior do Portugal profundo que continua por descobrir e por explorar, onde se respira ar puro e não há trânsito. Onde se pode comprar um terreno e construir a casa de sonho, sem penhorar o futuro e com a eletricidade a chegar através de painéis solares. E onde as crianças podem brincar na rua, em segurança, criando raízes para o Portugal de amanhã.
Resta saber que Marcas Territoriais portuguesas irão aproveitar o momento para crescer e posicionar-se do lado da mudança. Pois esta é cada vez mais a oportunidade das marcas do interior se afirmarem e combaterem as suas fragilidades, ao liderarem a tendência que todas devem seguir.
E a melhor forma de fazer chegar estas Marcas Territoriais aos públicos-alvo é a aposta na sua Identidade Digital. Dada a mudança de comportamento, as pessoas irão pesquisar mais sobre alternativas ao seu estilo de vida, sendo extremamente importante que as marcas tenham uma presença digital alinhada com a sua Ideia Central, comunicando a sua oferta no mesmo sentido.