Como os destinos se devem preparar para o pós-Covid-19

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A Bloom Consulting realizou dois estudos globais e independentes em conjunto com a empresa do mesmo grupo, D2-Analytics, sobre o impacto da pandemia de Covid-19 nas Marcas dos Países e nos destinos.

O presente artigo é sobre o impacto da crise de Covid-19 no Comportamento dos Turistas, incluindo as principais conclusões do estudo e as recomendações essenciais para as Destination Marketing Organization (DMO) em todo o mundo.

Uma vez que o turismo foi uma das dimensões mais atingidas pela pandemia, este estudo debruça-se sobre o impacto desta nos destinos, de modo a perceber as mudanças nas perceções dos turistas, as novas tendências no setor e como as marcas podem recuperar a indústria através da pesquisa e da recolha de dados e informação.

O outro estudo foi apresentado pelo CEO e fundador da Bloom Consulting, José Filipe Torres, no webinar do City Nation Place, no dia 27 de maio de 2020, que contou com a presença de Rebecca Smith, Diretora da New Zealand Story, e de Niall Gibbons, CEO do Tourism Ireland. Este visa compreender melhor o impacto do novo coronavírus nas Marcas País e em todas as dimensões da Bloom Consulting Brand Wheel©, bem como entender como a gestão de crise por parte dos governos afetou as perceções e as marcas em si. Pode igualmente ver os seus destaques aqui.

Conclusões do estudo sobre o impacto no Comportamento dos Turistas

O contágio do novo coronavírus teve um impacto profundo nas nossas vidas. Para além da saúde, afetou ainda a mobilidade dos cidadãos, que, em alguns casos, caiu para menos de metade com o confinamento obrigatório e a passagem para o trabalho remoto em larga escala. Graças às quarentenas e estados de emergência na maioria dos Países afetados pela Covid-19, as viagens foram canceladas e os turistas tiveram de regressar a casa.

Registou-se uma queda de 80% nos voos comerciais, com perdas até 450 mil milhões de dólares em termos de receitas turísticas a nível mundial. E o impacto na economia será extremamente danoso, com as previsões a apontarem para a perda global de 195 milhões de empregos no segundo semestre de 2020.

Países, Regiões e Cidades atingidos pela pandemia estão a braços com estes e outros desafios sem precedentes e unem esforços para encontrar soluções e estratégias inovadoras que lhes permitam ultrapassar estes tempos difíceis. E este estudo salienta como é importante encarar esta pandemia como uma oportunidade de adaptação a um novo normal e reerguer a indústria turística de forma diferente.

Segundo o estudo, 78% dos inquiridos internacionais já tinha planos para viajar em lazer durante o ano de 2020, com 42% a pretender fazê-lo no verão e 16% na primavera. Dos 22% que não fizeram planos, aproximadamente um terço (35%) iria eventualmente viajar, com os restantes a adiar os planos por motivos financeiros ou pessoais. O destino de 37% dos turistas globais seria a Europa, 18% dirigia-se para a Ásia e 14% para as Américas. De salientar que 23% intencionava fazer turismo doméstico.

Mais, 54% dos que responderam ao questionário internacional da Bloom Consulting já tinham efetivamente reservas para as suas férias. O que demonstra que o mercado turístico mundial estava em plena ação para 2020.

Mas com a declaração da pandemia, o mundo parou. Irão os turistas comportar-se da mesma forma num mundo pós-Covid-19? Quando estarão preparados para viajar novamente e em que condições?

Para avaliar as novas tendências, a Bloom Consulting incluiu três cenários possíveis nos questionários e os resultados foram preocupantes.

No primeiro cenário, o vírus estaria controlado, mas integrado nas nossas vidas. Mesmo sem restrições de viagem e sem necessidade de quarentena na chegada ao destino escolhido, 45% ainda não estariam prontos para uma viagem de lazer. No segundo cenário, o vírus estaria quase erradicado, com um tratamento já existente. Apesar do acesso a medicação, 35% optarão por permanecer em casa. No terceiro e último cenário, o vírus estaria totalmente erradicado. No entanto, 15% dos turistas globais não arriscariam viajar.

Fonte: Bloom Consulting e D2-Analytics

Mesmo no tão desejado cenário perfeito, sem Covid-19, continua a haver um fator central a retrair os turistas – o medo. O receio de contrair o vírus sobrepõe-se ao desejo de viajar para 64% dos inquiridos internacionais. Este sentimento de insegurança obriga os destinos a repensar e redesenhar todo o seu modelo de negócio para se adaptar às novas necessidades dos visitantes. Uma dinâmica que a Bloom Consulting acredita ser temporária.

Quais são então as novas necessidades dos turistas, às quais os destinos devem responder imediatamente?

Quase metade (46%) dos inquiridos que irão viajar para fins de lazer colocam a hipótese de escolher um destino diferente do inicialmente previsto ou reservado antes do surto de Covid-19. Contudo, este estudo não indica que irão dar prioridade aos destinos nacionais em detrimento dos internacionais, existindo outros fatores a pesar neste contexto.

De acordo com os dados recolhidos, conclui-se que o equilíbrio entre uma governação eficaz e ofertas turísticas adequadas à nova realidade é a melhor resposta para a atratividade dos destinos neste momento. Ou seja, as perceções de uma boa gestão governamental da crise e um bom sistema de saúde influenciam a vontade de 53% dos turistas a visitar o destino, que esperam ofertas adaptadas, mediante o desempenho destes durante a pandemia. E 39% poderão apreciar destinos menos concorridos ou diferentes, que ofereçam garantias de um programa de higiene.

Tudo isto indica que as DMO devem monitorizar o seu Brand Nought – B0, isto é, o rácio entre as perceções positivas e negativas dos destinos baseado na resposta do governo à crise. A média global de B0 desta crise de Covid-19 situa-se em -1,8, o que significa que, para neutralizar 1 perceção negativa, os Países precisam de 1,8 perceções positivas. Embora cada País tenha um Brand Nought diferente, devido à especificidade da sua realidade.

Recomendações para os destinos

Não se prevê que esta crise seja a curto prazo, dados os efeitos devastadores a vários níveis. Entretanto os destinos e as DMO têm de desenvolver ofertas turísticas à medida das novas necessidades dos turistas, trabalhando juntamente com os governos para estabelecer uma estratégia que assegure uma boa reputação do País.

Com o propósito de ajudar os destinos a preparar-se para combater as consequências da pandemia no presente e antecipar uma melhor gestão de crises futuras, a Bloom Consulting faz quatro recomendações criteriosas que as organizações devem incorporar nas suas estruturas.

Estas são algumas das principais estratégias para enfrentar os desafios da mudança de perceções dos públicos-alvo.

PrimeiroEvitar a concorrência de preços. De acordo com o estudo da Bloom Consulting, o a falta de orçamento disponível é o motivo pelo qual 15% dos inquiridos não irão viajar em lazer. Os destinos menos turísticos e um melhor sistema de saúde são as principais preocupações dos turistas. Logo, os destinos devem evitar a concorrência de preços como fator distintivo fundamental para atrair turistas no próximo ano.

SegundoRedesenhar e redefinir o turismo. Os comportamentos e as preferências dos turistas mudaram. A oferta de produtos deve ser ajustada às novas expectativas e necessidades do turista, por isso a estratégia da marca deve garantir que o destino é atrativo e seguro. Os turistas vão procurar novos destinos, com bons programas de higiene e onde possam encontrar menos afluência de pessoas. Esta é uma oportunidade para que os destinos mais pequenos também atraiam turistas, criando um equilíbrio no setor e evitando que as multidões “gravitem” nos pontos tradicionais. As estratégias turísticas anteriores também devem ser revistas, pois podem ter-se tornado obsoletas. O objetivo é assegurar uma abordagem sustentável, a longo prazo, para mostrar às pessoas que o destino está preparado para qualquer imprevisto.

TerceiroAlargar o âmbito dos dados e da influência. A ação governamental está no centro de como os destinos são vistos e desempenhará um papel de liderança na sua promoção. As DMO devem acompanhar e medir as perceções sobre as ações, atividades e políticas governamentais. Estas perceções influenciam as preferências dos turistas na escolha de um destino. É crucial que trabalhem em conjunto para incluir cuidados de saúde sólidos nas suas ofertas para informar os turistas preocupados, uma vez que serão cada vez mais valorizados. Os governos e as DMO podem começar por avaliar o Brand Nought e medir a identidade digital para evitar danos no futuro, caso ocorram outras crises. A estratégia da marca deve considerar a informação e os dados completos como a base da sua capacidade de resposta imediata.

QuartoPlanear a estrutura de gestão da crise. É essencial que a DMO disponha de uma equipa ou de um plano pronto para se adaptar, analisar e responder a uma nova crise. Ultrapassar o medo e a incerteza serão os fatores decisivos para os turistas visitarem ou não um País.